Structuration Theory (ST), da sociologia para Agile

Desculpe aí, mas Agile não funciona enquanto não entendermos os porquês, teorias diversas como a ST (structuration theory), ANT (actor-network theory), Tuckman, Cynefin, Institucional, Agência, … ajudam muito a entender de forma científica e empírica os porquês. Sobre os ombros de gigantes vemos além!

Na década de 80 o sociólogo britânico Anthony Giddens desenvolveu a teoria da estruturação (ST), que procurava explicar a dualidade entre estrutura e agência, teoria que recebeu desde então a contribuição de muitos pesquisadores. Essa teoria é outra forma de sensibilizar quem está por adotar ou está tentando Agile.

Estrutura é o que forma e dá visibilidade, são as organizações, objetos, artefatos tecnológicos, os meios através dos quais operacionalizamos a vida social, o contexto organizacional ou de projeto.

Agência são as ações dos agentes humanos, entendendo por agente humano não as intenções mas os padrões de ação realizados pelas pessoas em um viés de tempo e espaço.

O mais importante é a visão de que as estruturas não podem ser entendidas alheias as práticas sociais regulares, situadas em determinado contexto físico e temporal. Assim, um artefato ou método somente poderá ser analisado a luz das atitudes e processos estabelecidos durante sua interação com e entre as pessoas.

A Teoria da Estruturação é uma teoria oriunda do campo da sociologia e, por isto mesmo, originalmente alheia a questões relacionadas a Tecnologia da Informação.  Wanda Orlikoski desde o início da década de 90 contribui com a ST pela dualidade tecnologia-uso e publica em grandes e importantes journals.

Trazendo a Teoria da Estruturação para o campo das ciências sociais e para a área de Tecnologia da Informação, Wanda Orlikoski afirma que as tecnologias não têm estrutura por si só, posto que dependem da ação humana. As estruturas se estabelecem a partir do uso dos artefatos tecnológicos em interação com as ações humanas continuadas, que sofrerão um processo de mudança e adaptação.

A simples existência de um hardware ou software, por exemplo, se resume a um simples artefato tecnológico, passando a ser uma estrutura a partir da interação e uso, situação que ela denomina como “tecnologia-em-prática”, que pode ser:

Inércia: Uso da tecnologia como meio de manter o status quo;

Aplicação: Uso da tecnologia para modificar e melhorar a forma existente de fazer as coisas;

Alteração: Uso da tecnologia para alterar significativamente o status quo.

O artefato sofre diferentes condições de uso gera diferentes consequências através do somatório de influências das estruturas e agências, conforme o meio social, organizacional e cultural onde está inserido. Um mesmo artefato ou método pode e será diferentemente usado, gerando diferentes resultados.

Meus posts sobre ANT (actor-network theory) e sobre “problema de seleção” oferecem abordagens muito prática sobre essa percepção, posto que cada organização (ou indivíduo) terá sua história, cultura, valores, diferentes atores tirando partido da sua experiência em interações com tecnologia e grupo.

Agile – Quebra de Paradigma

Na nova sociedade do conhecimento, estruturas e agência devem ser flexíveis, adaptativas a um mercado em constante mutação. A mudança pode se dar de forma consciente ou inconsciente, mesmo assim terá imprevistos e a Agência (interação consciente e continuada) irá produzir, reproduzir ou mudar as Estruturas da organização.

Aqui, Métodos Ágeis deve ser visto como um conjunto de capacidades e limitações que moldam a ação humana e por ela são moldados. Sendo assim, os estudos em ST indicam que é preciso conhecer as Estruturas e Agencias existentes, ambas com mesmo peso e relevância, estrutura e agência.

Nos estudos de Wanda Orlikoski podemos facilmente perceber uma percepção de conceitos de Kaizen ou Kaikaku \o/

Mudança Planejada – Os gerentes são a origem e força das alterações, a Agência é imposta;

Imperativo Tecnológico – A estrutura enquanto tecnologia é a força motriz, a Agência é irrelevante;

Equilíbrio pontuado – A mudança é rápida e frequente, sinergia resultante de Estrutura e Agência.

Kaikaku representa o modelo tradicional, com mudanças radicais, programadas, implementadas em curto espaço de tempo, como saltos evolutivos. Kaizen é baseado em melhoria contínua, pequenas mudanças frequentes conforme surgem pequenos problemas.

O Kaizen é baseado no ajuste evolutivo frequente de Estrutura e Agencia, enquanto o Kaikaku tem normalmente um aspecto mais ligado a Estrutura. Existe um conceito chamado Kaizen Blitz que motivado por uma necessidade ou oportunidade pode provocar uma mudança mais ampla e radical, mas é a exceção que comprova a regra.

Estrutura não existe sem Agência e vice-versa, reflita sobre isso, desejo que 2014 seja um ano mais consciente e repleto de boas mudanças! \o/

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