A relevância da Teoria da Massa Crítica e Campos Mórficos

Um post provocado pela amiga Denize Vasquez, sobre Massa Crítica … como sempre, a partir da provocação fui atrás de teorias complementares, aquelas que reforçam nossos argumentos e paixões.

Acredito muito na essência conceitual da teoria da massa crítica e também dos campos mórficos como fundamentais à mudanças culturais, desde grandes grupos, organizações, sociedade, nações e mundo. Quero falar um pouco da minha leitura sobre estas teorias, bem como o quanto conhece-las pode mudar sua forma de ver as mudanças que queremos na sociedade, empresas e equipes.

Mudanças culturais como as propostas por metodologias colaborativas, como o Lean, Scrum, Kanban, XP, Design Thinking, Lean StartUp, Permacultura, Dragon Dreaming, etc, exigem a criação de novos hábitos, atitudes, comportamentos, pois baseiam-se em valores e princípios. Esta tarefa depende da evolução de um ou mais campos mórficos e a teoria da massa crítica pode nos ajudar a construir.

Campos Mórficos

Os estudos do biólogo inglês Rupertet Sheldrake propõem a existência de campos imateriais que ligam integrantes de um mesmo grupo, como exemplo temos o instinto, ensinamentos ou padrões que se preservam entre indivíduos de mesma espécie sem a necessidade de aprendizagem para repetição consciente.

É possível entender que habilidades ou mesmo aprendizados nos sejam repassados de forma atemporal e mesmo a distância, algo que pode ser entendido como um saber coletivo, transmitido através de campos imateriais e inconscientes, algo como ondas de rádio-frequência que nos interligam enquanto grupo ou espécie.

Ao darmos crédito de que isso é possível, assumimos que é possível haver inúmeros campos mórficos, gerando e perpetuando saberes e alertas, hábitos e ações, e como uma nuvem em tecnologia da informação, basta estar conectado a ela para fazer os devidos downloads de nossos firmwares ou softwares básicos.

Assim, resumidamente, campos mórficos ultrapassam tempo e espaço para a perpetuação e evolução contínua de cada grupo ou espécie, como se cada uma delas vibrasse em uma rádio-frequência única e singular. Um pouquinho de física quântica, um mecanismo criado para aumentar nossas chances de sobrevivência.

Teoria da Massa Crítica

Uma andorinha não faz o verão, um ditado popular que poderia ter sido usado por Pamela E. Oliver e Gerald Marwell da Faculdade de Sociologia da Universidade do Wisconsin em 1983 quando propuseram a Teoria da Massa Crítica. Uma teoria que teoriza sobre a dinâmica e processos relacionados às ações coletivas.

Frente a possibilidade de uma ação coletiva, aqui representada por um processo de mudança, quer por pressão ou paixão, desenvolve-se a partir da contribuição ou ação de uma pequena parte do grupo envolvido. Marwell e Oliver teorizaram que um pequeno grupo, interessado e engajado, iniciam um processo que lhe exigirá dedicação de recursos como tempo, energia, econômico, disseminação, etc.

Este início exige empenho pessoal daqueles que podemos chamar de “early adopters” em relação ao estabelecimento de uma rede de comunicação eficaz, destinada a conquistar novos “adopters”. A teoria da massa crítica entra aqui, se este movimento não crescer e gerar um volume tal que torne este crescimento e continuidade auto-suficiente e crescente, tenderá a diminuir e desaparecer.

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É o atingimento de sua massa crítica que consolida uma ação, movimento ou mudança, transferindo e diluindo o grande esforço necessário dedicado pelo pequeno grupo que iniciou esta ação a um número crescente de participantes. A comunicação é fator crítico de sucesso, em grandes organizações é comum estabelecerem equipes de evangelização, dedicadas a potencializá-la.

Mudanças culturais – equipe, empresa ou sociedade

Não importa se estamos falando de tribos sociais, metodologias de trabalho ou evolução natural do comportamento humano, é importante perceber o papel e importância de cada um de nós no atingimento da massa crítica naqueles temas e ações que gostaríamos de ver se estabelecendo como novos padrões ou conquistas.

Afinal, quer seja no desejo de sermos ciclistas, veganos, agilistas ou outras ações, nossas atitudes colaborarão ou não na evolução de nosso campo mórfico, na conquista da massa crítica necessária para que cada mudança estabeleça-se como um movimento auto-suficiente e crescente.

Se não tivermos isso em mente, podemos imaginar que estamos colaborando, mas na verdade nada fazemos de concreto ou fazemos a coisa errada, pois para tudo há estágios, as vezes na boa vontade de querer mais, acabamos não somando, mas subtraindo.

Artigos seminais – Pamela Oliver & Gerald Marwell
American Journal of Sociology

Teoria da massa crítica I (link) – Production of Collective Action
Teoria da massa crítica II (link) – The Paradox of Group Size
Teoria da massa crítica III (link) – Social Networks and Collective Action
Uma retrospectiva sobre 10 anos da Teoria da massa crítica (link)

4 comentários

  1. Kotick, com todo respeito, a teoria do campo mórfico pode até estar na direção correta – pode mesmo haver algum mecanismo de indução de comportamento social – mas dificilmente existe alguma “onda eletromagnética” como meio de interação. Se existisse seria facilmente mensurável. Se for de intensidade indetectável, então dificilmente atingiria um cérebro sob uma caixa craniana com intensidade o suficiente para modular qualquer molécula ou reação eletroquímica. Isso é uma questão encerrada com os SQUIDs (superconductor quantum interference devices.) E, please, deixe a Mecânica Quântica de fora. 100% do que se fala dela fora da Física é equivocado. 😉

    Quanto à tal da Massa Crítica, uma crítica provocativa: se massa crítica é importante, o que dizer de coisas que se sustentam sem ela? Por exemplo, projetos de Software Livre que nunca alcançaram uma grande audiência e que até reconhecem que nunca vão fazê-lo, mas mesmo assim crescem? (Estou com um neste momento: easybook.org.)

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    1. Fabio, tamo junto :o) Eu não leio teorias como a uma bola, mas como um lego-lego. Campos mórficos no conceito de indução inconsciente, via formadores de opiniao, massa critica na implantação ágil, pois exige muito esforço no inicio apenas com early adopters, mas ao crescer a adesão assume um crescimento natural. Muitas teorias nos oferecem insights e pontos de apoio, mas normalmente é temerário aceitá-las pelo conjunto integral da obra. Nem citei os artigos e post do centésimoacaco por causa disso … essapeça desse lego eu defenestrei 🙂

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